Zico Curriculum

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 Em outubro de 2004, Zico Correa, aos 22 anos, já se dedicava integralmente à arte marcial. Tae kwon Do foi a escolha que fez para ajudar a facilitar no pagamento da faculdade, uma vez que ganharia bolsa nos estudos por causa dos campeonatos.
Vindo de um histórico de outras artes, como kikiboxer, capoeira e ginastica olímpica, encontrou facilidade nas aulas de Tae Kown Do. “Encaro o caminho da arte marcial que escolhi como uma guerra que iria enfrentar por quatro anos: Me tornar faixa preta e ganhar bolsa na faculdade. Então eu teria que terminar aquilo que comecei.”
Ao final de 2004, em um dado momento de descontração com os amigos da faculdade, enquanto assistiam vídeos para inspiração aos treinos, Zico se deparou com cenas jamais vistas antes: movimentos que nem os melhores filmes de ação já haviam reproduzido. Eram pessoas aparentemente normais em um vídeo amador chamado "EVOLUTION". “Nunca imagens e uma única palavra me disse tanto quanto aquele vídeo”. No exato momento, ele percebeu que um novo mundo se abria a sua frente, e que para trilhar esse caminho o preço a pagar seria a sua dedicação em busca de evolução.

Não havia um ponto de chegada. Era o início de uma nova era. Um novo mundo. Era a busca do pelo desafio de confrontar o maior e mais complicado adversário: Ele contra ele mesmo. “Era a batalha que eu precisava.”.
   Daquela turma que viu o vídeo, apenas ele colocou fé em um caminho tão incerto. A partir dali, passou a dedicar sua vida e a aproveitar o espaço da faculdade de Educação Física para aprender e pôr em pratica aquela obra-prima que mais tarde conheceria como “Parkour”. “Tentei reproduzir os movimentos do vídeo que nunca tinha visto antes. Percebi que havia movimentações simples, mas que antes não tinha oportunidade de usá-las. Me dediquei aos movimentos que já havia feito quando criança. Passei a combiná-los e desenvolvê-los melhor ea gravar em câmeras de celulares para fazer comparação com os “originais”.

Em 2005, ele voltou a ginástica olímpica, pois chegou a conclusão que os caras do vídeo possivelmente eram atletas de outras modalidades. Passou a treinar todos os dias e a testar sua movimentação na rua. Em junho do mesmo ano, o Discovery Channel exibiu o documentário “JUMP LONDON (free running)”, com Sebastién Foucan, um dos precursores de modalidade. “Adquiri uma base melhor do que estava fazendo e descobri então que a minha evolução não deveria parar; tinha que ser continua, tanto em meus movimentos quanto na minha visão de mundo. Eu teria então por meio daquelas movimentações a chance de conquistar uma liberdade nos caminhos que eu escolheria, porque agora nada seria capaz de me parar. Minha mente seria meu guia, meu corpo o veiculo para cada vez chegar mais longe, eu teria então o corpo e a mente num deslocamento constante e sem barreiras.

  Hoje é possível pesquisar sobre o assunto, descobrir o ponto de partida daquilo tudo que David Belle elaborou, e ouvi-lo explicar em poucas palavras onde e como tudo começou. E ainda compreender sua vida pessoal relacionada com a prática que deu o nome de “Parkour”. “Eu tento misturar o que vi das duas histórias da modalidade, sem distinção, porém mais tarde assuntos redundantes sobre a pratica por parecer existir duas vertentes surgiram na internet. Mas eu continuo meu caminho solitário, mas com a certeza de que ter aberto minha mente foi a maior das recompensas. Tento então visualizar possibilidades de movimentações; visualizar possíveis situações onde algo parecia impossível e, com isso, os treinos de ginástica olímpica começaram a cada dia mais a serem substituídos por treinos na rua. Eu deveria aprender a lidar com a realidade do concreto, do frio, do calor, da chuva, do alto, do baixo, da dor e da alegria da conquista de aprendizado.”
Até então, Zico imaginava ser o único, foi então que com uma matéria do Faustão no final de 2005, ele conheceu o Grupo Le Parkour Brasil e procurou saber quem eram aquelas pessoas para poder compartilhar experiências. No grupo, conheceu os irmãos Thiago (Urso) e Gabriel (Bisão), tornaram-se grandes parceiros de treinos juntamente com Leonardo Penteado e Anderson Guedes. Só depois conheceu os outros integrantes que haviam criado o grupo.

  O ano de 2006 foi um momento de busca incessante por conteúdos da pratica: vídeos na internet, textos, reportagens e tudo aquilo que havia de mais novo. Marcávamos treinos todo final de semana e, as vezes, até sobrava tempo para treinos noturnos no meio da semana. Mas como todos moravam distantes uns dos outros, os treinos permaneciam mais isolados, cada um treinando perto de suas casas.
  
  “Eu batizei um bosque perto de casa de “o treino Yamakasi”, pois era muito parecido com umas cenas do documentário “Generation Yamakasi”, onde eles faziam um treino dentro de um bosque em Evry. Lá, eu me movimentava limpando minha mente, tentando entrar em contato com cada som daquele lugar, sentir o ar que vinha dali, observar cada coisa como plantas, insetos, animais, e os obstáculos. Eram treinos em dias quentes, frios, chuvosos, perturbados e tranqüilos, minha meta era sempre sair de lá como queria sair. Me dediquei bastante em trazer tudo aquilo que estava aprendendo dentro da Educação Física para pôr em prática no Parkour. Minha vida era aquilo; era pensar 24 horas em tudo aquilo que eu estava fazendo, pois eu havia enxergado uma oportunidade de lutar por algo que ia mais além do que a beleza dos movimentos, era uma oportunidade de mudança, de EVOLUÇÃO.
“O mundo era padronizado, influenciado a fazer sempre as mesmas coisas, correr sempre atrás dos mesmos objetivos. Nosso país então pra mim era um amontoado de potenciais que vinha sendo jogados fora. Isso porque escolheram ser bom apenas em uma coisa. A única visão de sonho, diversão, e de conquista era voltada somente para um único ponto. Dentro do Parkour fui conhecendo muitas áreas, tanto da área do esporte, quanto de tecnologia, educação, saúde... etc. E tive acesso a pessoas que estavam se especializando nessas áreas e travando batalhas internas para se tornarem pessoas melhores. Ser alguém melhor do que já era hoje, pois todas elas colocavam suas especialidades ao acesso de todos: trocavam idéias, ajudavam no que era preciso. Era a união de uma família que queria crescer junto.
A onda de vídeos começou a surgir. Muitos lançaram seus vídeos se expondo a criticas e elogios. Acredito que muitos se iludem com essa idéia de treinar para fazer vídeo. Imaginam que a intenção do treino é essa, e com isso, nem sequer conseguem acompanhar a evolução de um vídeo para outro. Se frustram, se perturbam com as criticas, pois a maior parte deles os faziam para poder dizer “fiz um vídeo”. Acho que deviam ter gasto um tempo a mais. Serem mais criativos, trabalhar em cima da movimentação, não deixar uma coisa vazia. Deveriam manter e continuar a ser a ARTE DO MOVIMENTO.

  Foi então que decidi que deveria fazer um vídeo meu. Já tinha 2 anos de prática e escolhi partes de uma música que representasse o que eu tinha de melhor para mostrar de força, coragem, amizade e criticar algumas coisas da sociedade, pois eu consegui entrar em contato com esses sentimentos e queria eles no meu vídeo. Com ajuda de meu amigo Gabriel Miranda, ele fez um excelente trabalho na edição colocando as cenas em perfeita sincronia com a música, e pra mim, esse vídeo, representa o meu Parkour.
  
Em 2007, consegui um reconhecimento legal do meu empenho. Fiz alguns trabalhos com o grupo mais conhecido do Brasil e aumentei o meu desejo de construir um caminho seguro para aqueles que virão a conhecer o Parkour por intermédio do meu esforço. Comecei um projeto em uma escola para passar o Parkour para alguns alunos, mas infelizmente o espaço da escola se mostrou pequeno para a atividade, e a minha própria experiência em aulas era pouca para repassar adiante o que sabia. Foi pra mim um ano confuso, pois eu recebia um grande reconhecimento, mas não achava que era hora praquilo tudo. Eu tinha muito mais ainda a aprender e a desenvolver. Eu estava em processo novamente de me reconhecer: construindo responsabilidade, me arriscando mais pois eu sentia que havia dado uma estacionada.

Nem mesmo vídeos eu fiz mais. Tinha algumas idéias sobre alguns assuntos críticos. A visão da sociedade para com o Parkour; mas não consegui reunir câmera, alguém pra editar, tempo e então continuei a treinar, mas sem uma referência que me empolgasse verdadeiramente. Até meu amigo Tiago Miranda havia ido embora do Brasil e os treinos com os outros foram ficando cada vez mais distantes de acontecer. Então comecei a fazer treinos noturnos. Era um jeito novo de treinar. Nunca fui muito motivado por outros a continuar. Não havia para eles um por que, não existiam campeonatos, nem um ponto de chegada. Mas eu não queria chegar a lugar algum, eu só queria caminhar.

O ano de 2008 começou com minha indecisão se deveria permanecer no grupo que estava ou dar continuidade as minhas idéias. E foi então que recebemos no Brasil a visita inesperada de Chase Armitage, que fazia parte do primeiro vídeo de parkour que eu assisti, e Daniel Ilabaca, que simplesmente é aquele tipo de pessoa que nasceu com um dom pro que faz. Percebi que a dedicação e treino te fazem trilhar caminhos inimagináveis. Era difícil compreender as idéias que eles queriam passar, porque era um nível diferente de evolução no Parkour. Eu queria compreender o que aquilo que eles falavam pra mim significava, e por isso, comecei a treinar motivado para conhecer aquele nível e entender tudo aquilo que havia perguntado e não tinha capacidade ainda pra entender.
No meio de 2008, eu tive tempo pra aprimorar minhas idéias: elas ganharam força e solidez quando precisei ficar um tempo de descanso por conta de um machucado que sofri durante a gravação de um filme. Eu tinha preparo pra enfrentar certos desafios. Só bastava enxergar as coisas de uma forma diferente. Era realmente um trabalho mental a se fazer, mas que não bastava somente confiança nas minhas habilidades. Eu tinha que estar com minhas idéias concretas. E não é algo que se obtém de um dia pro outro. Neste incidente, eu estava no sexto dia de filmagem, cada um com carga de 8 horas por dia. Próximo ao final das gravações, eu já estava exausto e na intenção de cumprir com minha obrigação e honrar meu dever com o trabalho, eu meio que ignorei meus ideais e continuei a me movimentar. Era pra eu ter entendido que aquela era a hora de parar. Ignorei minha consciência, rompi alguns ligamentos do tornozelo e precisei ficar 3 meses até conseguir andar de novo.

Descer as escadas foi meu primeiro desafio: não podia flexionar o tornozelo. Por isso eu fazia muitos exercícios para os braços e me dedicava a descer as escadas normalmente. Depois de três semanas já conseguia descer descentemente a escada, e sentia que era a hora de peitar novos desafios. Fui até o Bosque. Lá me sentia bem. Era o começo de tudo. Era o começo de tudo de novo. Caminhava. Sentia aquele lugar. Fiz isso durante mais umas duas semanas até conseguir dar as minhas primeiras corridas nos caminhos mais retos. Após já ter a certeza que “meu corpo respondeu ao primeiro desafio após a queda”, eu sabia que ele então evoluiria continuamente, respondendo ao meu esforço para qualquer nível.
Foi aí que tive a idéia de que eu tinha como atingir meu nível máximo de conhecimento do Parkour, e que para isso me bastava saber como recomeçar. Surgiu o “Level Z Parkour”, que solidificou um estilo de treino baseado em minhas experiências e possibilitando mostrar minha trajetória em cima da prática. O Level Z é um estado que ainda não atingi, mas que um dia pretendo alcançar.
Chegou então o ano de 2009, ainda em construção. O estilo de treino evoluiu e sempr aprendendo com pessoas que estão ao meu lado há muito tempo e que fazem parte dessa evolução: Isis, minha Irmã, Mariana, e os meninos das “aulas” de Parkour: Tom, Pedro, Henrique e Hugo. Entrei para fazer parte da iniciativa Geração Tracer, um projeto que reúne algumas das cabeças mais experientes do Brasil em matéria de Parkour, e que tem por objetivo ajudar a organizar melhor a desenvoltura do Parkour no cenário brasileiro. O grupo Geração Tracer conta com representantes de diferentes estados e cidades do Brasil e defende a bandeira daqueles que lutam verdadeiramente pela prática do Parkour: como ele surgiu, se adaptou ao modo de vida brasileiro e sem deixar que a prática seja corrompida ou perca sua raiz. 
Essa é mais uma trajetória que se inicia. Mais um começo. Mais um desafio que me apareceu dentre todos os outros que ainda irão aparecer.